terça-feira, 15 de novembro de 2016

Reforma de Ensino Médio e ENEM

São Paulo , 15 de Novembro de 2016


"Não dá para discutir reforma do ensino médio sem discutir Enem”, afirma representante do Conselho Nacional de Educação"


A declaração aconteceu nesta quarta-feira (09), durante o Seminário Internacional Desafios Curriculares do Ensino Médio, que termina hoje (10), no Teatro Cetip, em São Paulo
“Não dá para discutir reforma do ensino médio sem discutir Enem (Ensino Médio brasileiro e o Exame Nacional do Ensino Médio)”, afirmou o representante do Conselho Nacional de Educação, José Francisco Soares, durante a mesa-redonda “O currículo do Ensino Médio no olhar de pesquisadores e gestores brasileiros”, no primeiro dia do Seminário Internacional Desafios Curriculares do Ensino Médio. O evento, que se encerra hoje (10) no Teatro Cetip, em São Paulo, é promovido pelo Instituto Unibanco em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
Para Soares, o ensino médio brasileiro e o Enem são excludentes. “Somos ótimos em criar ideias que dão tudo para poucos”, ressaltou Soares ao falar que a pauta única, que generaliza todos os estudantes, não funciona de forma satisfatória. Para ele, é preciso ter uma mudança do projeto, que atenda cada vez mais jovens, reconhecendo as diferenças, que são fruto de escolhas, e que o ensino médio é um momento de transição da vida desses estudantes.
Para Soares, que é ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o aprendizado no ensino médio é outro problema. “Muitos desistem no primeiro ou segundo ano. E os que ficam, aprendem pouco. E só alguns conseguem levar o que aprenderam para a vida toda”, disse. “Temos que mudar isso, porque essa situação é fruto da universalização de um modelo pensado para poucos. Precisamos ter um projeto para a maioria, reconhecendo as diferenças como fruto de escolhas. O projeto também deve reconhecer a comunalidades, exigência da cidadania”.
Para o representante do Conselho Nacional de Educação não se pode ignorar que o ensino médio é um período de transição para o adolescente, e ignorar a importância do ensino fundamental. “O que o estudante aprende deve ajudá-lo a se expressar. Por isso, não podemos pensar no ensino médio, sem pensar no fundamental, porque é uma continuidade. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é estruturante para o fundamental”, afirma.
Entre as alterações pensadas recentemente para o ensino médio está o aumento a carga horária. No entanto, é preciso levar em consideração os estudantes que não estudam no período diurno e que não têm tempo para fazer o ensino médio integral.
A sugestão de Soares é de que o ensino médio seja dividido em três vertentes: Aprender para ler, com disciplinas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa, e Matemática; Aprender para conviver, que trazem matérias como Artes, Sociologia, Filosofia, Química, Física; e Aprender para fazer, com foco no ensino técnico e no que o jovem levará para a vida dentro do mercado de trabalho.
Para Idilvan Alencar, da Secretaria Estadual de Educação do Ceará, é preciso resolver os problemas que afetam o aprendizado do aluno. “A infraestrutura é um dos problemas e isso é forte no Brasil, porque não temos laboratórios, acesso à internet. As condições de trabalho para o professor é outro quesito fundamental. O professor deve ter condições de lecionar e ser valorizado, contar com um salário justo”, observou.
Quanto a Medida Provisória 746/2016, que trata da reestruturação do ensino médio, Alencar disse que não dá para fazer nenhuma reforma sem pensar na alfabetização. “Será que essa MP vai conseguir atingir as metas do PNE (Plano Nacional de Educação)? Para mim, essa MP é um desrespeito com as pessoas que trabalharam pelo PNE. Não dá para tratar do assunto de forma isolada”, afirmou.
Para ele, é necessário cautela na unificação das 13 disciplinas do ensino médio público nacional em quatro grandes áreas do conhecimento – anunciada recentemente pelo Ministério da Educação (MEC) e, principalmente, diálogo. Pela proposta, prevista para vigorar a partir do próximo ano, as disciplinas serão integradas em ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática. “Os professores/especialistas e estudantes precisam ser ouvidos. Eu tenho certeza que o aluno adora as escolas que têm educação física e artes no currículo. Isso tem de ser levado em consideração”, comenta.
Na opinião de Marilza Regattieri, da Raiz Consultoria e Projetos, os conteúdos são tratados de forma convencional, de forma fragmentada e muitas vezes sem um vínculo com a realidade dos jovens.  “Falta significado para a vida dos jovens e isso pode levar ao abandono”, comenta.
Para ela, os professores precisam ser instrumentalizados para dominar o quê e como ensinar, identificando os conteúdos e para que serve o que estão ensinando. Verificar quais metodologias apropriadas ao trabalho para os jovens e mostrar para eles, qual a proposta de formação a ser desenvolvida é também importante. “Precisamos estimular a diversidade de ofertas do ensino médio para que contemple a heterogeneidade dos jovens estudantes. Precisamos garantir aos estudantes, ao longo de sua formação, processos de orientação individual de construção de seu projeto de vida”, explicou.
O debate, que foi mediado por Cleuza Repulho, também contou com a presença de Gisela Tartuce e Marina Nunes, ambas da Fundação Carlos Chagas.
Vivian Costa – Jornal da Ciência

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