sábado, 26 de janeiro de 2013

Esperança de acordo sobre mudanças climáticas

JC e-mail 4653, de 25 de Janeiro de 2013. 2. Discurso de Obama renova esperança de acordo sobre mudanças climáticas Presidente dos EUA sinaliza que país poderá assumir compromissos de redução na emissão de gases do efeito estufa O destaque dado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, às mudanças climáticas em seu discurso de posse para o segundo mandato, esta semana, renovou as esperanças de uma mudança na postura do país nas negociações globais. Segundo especialistas, ao dedicar oito frases ao tema, mais do que a qualquer outro assunto, Obama sinalizou tanto para o público interno quanto o externo que os EUA estão dispostos a assumir compromissos de redução na emissão de gases causadores do efeito estufa, mais de 15 anos depois de assinarem, e nunca terem ratificado, o Protocolo de Kioto, até hoje primeiro e único acordo mundial do tipo. "Vamos responder à ameaça das mudanças climáticas, sabendo que fracassar nisso seria uma traição a nossos filhos e às futuras gerações", disse Obama. "Alguns ainda podem negar o julgamento da ciência, mas ninguém poderá evitar o impacto devastador de incêndios descontrolados, secas debilitantes e tempestades mais poderosas". - Existe uma paralisia histórica nas negociações e, se os EUA assumirem uma posição mais ativa, o cenário muda totalmente - avalia o ambientalista e consultor em sustentabilidade Fabio Feldmann. - Obama está preocupado com o legado que vai deixar para os EUA e para o mundo e, embora as questões dos imigrantes e dos gays tenham forte apelo interno, no cenário internacional a questão climática é a mais importante. Redução de emissões por decreto Segundo Feldmann, Obama deverá atacar o problema em duas frentes. Na doméstica, ele deverá usar decisão recente da Suprema Corte dos EUA, que reconheceu a autoridade da Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês) para estabelecer padrões de eficiência energética e regular emissões que atravessam fronteiras estaduais, para evitar um enfrentamento com os conservadores no Congresso, que rejeitariam legislações neste sentido. Entre as medidas esperadas está a instituição de regras mais estritas para as usinas que usam carvão na geração de eletricidade, o que deverá estimular investimentos em fontes renováveis. E, assim como fez com a indústria automobilística no ano passado, a EPA deverá pressionar pela fabricação de eletrodomésticos mais eficientes no uso de energia. - Isso vai permitir que Obama, por meio da EPA, obrigue a redução das emissões como que por decreto - diz Feldmann. - Só o fato de ele poder fazer isso vai facilitar a negociação política no Congresso, para que ratifique um eventual acordo global. É um instrumento de barganha que ele não tinha até agora e está sinalizando que vai usar. Já no campo externo, Feldmann considera que a afirmação de que as mudanças climáticas são um fato comprovado cientificamente sinaliza que ficou para trás a atitude dos oito anos do governo republicano de George Bush, que dava voz e ouvidos aos céticos do clima. O economista Sergio Besserman, por sua vez, também elogiou o discurso de Obama, mas acha que ainda é muito cedo para afirmar que ele vai se traduzir em uma postura mais ativa nas negociações climáticas. - O que Obama disse é o que todo chefe de Estado minimamente informado sabe: de alguma forma, a ação humana está afetando o clima no planeta - comenta Besserman. - Mas quem acompanha o tema de perto sabe também, por meio de anos de pesquisas e relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), da gravidade da situação e que o tempo para manter o aquecimento global dentro de uma margem de segurança aceitável já passou. Os esforços voluntários que estão sendo feitos por várias nações, inclusive o Brasil, são bons, mas não têm sequer a chance de mudar o jogo. Besserman, no entanto, também lembra que Obama tem alguns fatores que estão agindo a seu favor, caso decida levar os EUA a terem uma posição de mais liderança nas conversas sobre o clima. Segundo ele, o boom na exploração do chamado gás de xisto está mudando a matriz energética do país, aproximando-o de uma independência da importação de combustíveis ao mesmo tempo em que ajuda a tirá-lo do abismo econômico. - Se este gás for usado para substituir outros combustíveis fósseis, como o carvão, gerando menos emissões, haverá coincidência entre o interesse econômico e uma postura mais agressiva nas negociações globais - avalia. - Num mundo com pouco tempo para chegar a um acordo, este é um passo de grande significado. Não existe negociação separada. Mudanças climáticas, autonomia energética e a saída da crise econômica caminham juntas, e Obama não foi tão firme levianamente. Ele sabe que tem por trás esta equação para apoiá-lo. (O Globo)

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