terça-feira, 14 de setembro de 2010

Brasileiros explicam estágio atual dos experimentos no Colisor de Hádrons

Megatúnel está esmiuçando partículas atômicas por meio de colisões. Em março, acelerador fez feixes de prótons trombarem a energia recorde


Os cientistas brasileiros que trabalham no super-acelerador de partículas LHC (Grande Colisor de Hádrons) estão animados com os resultados já obtidos, mas ressalvam que é preciso ter paciência e persistência para chegar ao anúncio das primeiras grandes descobertas científicas.

O maior experimento científico do mundo consiste em colidir partículas no nível mais alto de energia já tentado, recriando as condições presentes no momento do Big Bang, que teria marcado o nascimento do universo, 13,7 bilhões de anos atrás.

O LHC, situado em um túnel subterrâneo circular de 27 quilômetros de extensão sob a fronteiro franco-suíça, começou a circular partículas em novembro de 2009 (depois de ser fechado em setembro de 2008 por causa de superaquecimento). Em 30 de março deste ano, o LHC promoveu as primeiras supercolisões de partículas 'de laboratório' da história.

Pesquisadores do CMS, um dos detectores de partículas instalados ao longo do túnel, apresentaram no início deste mês, durante o 30º Congresso de Física de Colisões, na Alemanha, resultados que indicam a detecção do "quark top" pelo acelerador.

A partícula só havia sido "vista" nos Estados Unidos, por outro acelerador, o Fermilab. "Encontrar o quark top é simbólico. Este resultado é importante porque indica que os detectores estão funcionando corretamente, caso contrário não o encontraríamos", explica o físico André David, pesquisador da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês, a instituição responsável pelo LHC) e do Laboratório de Lisboa.

"O que procuramos aqui nunca foi visto antes, é como fazer tiro ao alvo sem o alvo, e resultados como esse indicam que estamos no caminho certo", diz o físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Vitor Oguri. "Existe uma ansiedade por resultados, mas a quantidade de dados é muito grande e primeiro precisamos analisar todas as informações. E ainda refazer e melhorar a física e as medidas que foram feitas antes. A gente desconhece muito mais do que conhece. Mesmo as partículas que já foram detectadas por outros aceleradores, como o Fermilab, ainda não são totalmente conhecidas."

Os pesquisadores apontam outra característica do empreendimento: "Os trabalhos aqui são feitos em colaboração, às vezes um grupo se concentra em uma determinada parte, mas a análise física é bem distribuída. Assim, os resultados não podem ser individualizados, os resultados individuais são utilizados por todos", explica Wanda Prado, também da Uerj.

(Ana Luiza Sério)

(G1, 11/9)

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