domingo, 27 de maio de 2012

Rio+20: ONU lista 56 recomendações para um mundo sustentável

Documento apresentado no Rio foi preparado por 22 especialistas convocados pelas Nações Unidas.


A ONU lançou, na última sexta-feira (18), no Rio, a versão em português de um relatório com 56 recomendações para que o mundo avance em direção ao desenvolvimento sustentável. O documento, elaborado por 22 especialistas ao longo de um ano e meio, traz sugestões mais ousadas do que aquelas que devem ser acordadas na Rio+20, a conferência da ONU sobre o tema que ocorre em junho na cidade.

Entre as propostas estão o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e a precificação do carbono, com a cobrança, por exemplo, de impostos sobre as emissões de gases do efeito estufa. Espera-se assim estimular a disseminação de tecnologias verdes. "É um relatório com frases e recomendações muito diretas", diz o embaixador André Corrêa do Lago, negociador-chefe do Brasil para a Rio+20.

Para ele, o documento final do encontro de cúpula da ONU deverá trazer formulações "mais sóbrias".

Outras medidas sugeridas são a criação de um fundo apoiado por governos, ONGs e empresas para garantir acesso universal à educação primária até 2015 e a inclusão dos temas consumo e desenvolvimento sustentáveis nos currículos escolares.

As recomendações são divididas em três grupos, de acordo com seus objetivos principais. O primeiro visa a capacitar as pessoas a fazerem escolhas sustentáveis; o segundo, a tornar a economia sustentável; e o terceiro, a fortalecer a governança institucional para o desenvolvimento sustentável.

"As pessoas participaram desse painel a título pessoal, ou seja, elas não estavam representando governos. Isso dá mais força [ao documento], porque o painel pode dizer certas coisas que não são consenso [entre os mais de 190 países da ONU]", diz Corrêa do Lago.

O coordenador do relatório, porém, disse esperar que as recomendações sejam levadas em consideração pelos negociadores da Rio+20. Janos Pasztor citou o estabelecimento de metas numéricas para o desenvolvimento sustentável como uma sugestão que pode ser adotada no curto prazo. O tema está em discussão na Rio+20.

A ex-primeira-ministra da Noruega Gro Brundtland, considerada "mãe" do conceito de desenvolvimento sustentável, participou da elaboração do relatório.

O documento completo pode ser acessado pelo link www.onu.org.br/docs/gsp-integra.pdf.
(Folha de São Paulo - 19/5)

Tema em discussão - Energia nuclear e meio ambiente

JC e-mail 4501, de 21 de Maio de 2012. 
A edição do jornal O Globo do dia  21 de maio de 2012 traz duas opiniões opostas sobre a relação entre energia nuclear e meio ambiente.




Equilíbrio, opinião do jornal

O desastre com os reatores de Fukushima, causado pelo terremoto e tsunami de março do ano passado, abalou a indústria nuclear, e muitos países, inclusive o próprio Japão, colocaram sob suspeição o uso de fonte nuclear para a produção de energia. Desdobramento compreensível, pois, no mínimo, era necessário entender o que provocara, nas minúcias técnicas, a perda de controle do complexo de usinas. Vários planos de expansão de geração termonuclear foram revistos no mundo, inclusive no Brasil, com a postergação de algumas unidades previstas para até 2020. Estabeleceu-se um novo prazo, para dez anos mais adiante (2030).

Em tempos de discussões sobre clima, Código Florestal e na contagem regressiva para a conferência da Rio+20, inevitável o assunto voltar ao debate. O Brasil conta com as duas usinas de Angra e constrói uma terceira, no mesmo local. O peso do parque de Angra é pequeno em termos nacionais, mas ajuda a sustentar o fornecimento ao Rio nas horas de pique.

O debate só faz sentido se considerar todos os aspectos envolvidos na questão. O meio ambiente, claro, é um deles, e dos mais importantes. Outro, a crescente necessidade de energia de um país dono de uma das sete maiores economias do planeta, e que pretende crescer a uma média anual de 5%. Para se ter uma ideia do que isso significa: a esta velocidade de expansão, o Brasil precisará, a cada ano, de uma quantidade adicional de energia equivalente a uma Belo Monte, hidrelétrica em construção no Rio Xingu.

Conhecido por ter um dos maiores potenciais de geração por hidrelétricas, a mais limpa fonte de energia, o Brasil costuma ser visto como um país sem maiores gargalos energéticos à frente. Não é tão simples assim.

Dos estimados 160 mil MW (ou 160 GW) deste potencial, metade já é explorada. Este número, isolado, alimenta otimismo. Porém, como as melhores alternativas de geração próximas ao mercado consumidor já são utilizadas (Sudeste, Sul), as melhores possibilidades de expansão do sistema de hidrelétricas estão distantes, ao Norte. Caso de Belo Monte.

Há problemas específicos nesta nova fronteira de produção de energia. Talvez o mais grave seja o ambiental. O licenciamento da usina do Xingu saiu em meio a conflitos e escaramuças sérias dentro da máquina burocrática. Tudo indica que a resistência política à exploração dos rios amazônicos será crescente. Há a alternativa de construção de usinas-plataformas: seriam construídas em clareiras, depois deixadas para trás, apenas com o pessoal necessário à operação das turbinas. Imita a exploração de petróleo no mar.

Seja como for, com o veto a grandes reservatórios, para evitar a inundação de grandes áreas - cuidado razoável -, as usinas no Norte não poderão utilizar todo o potencial de geração dos rios.

Como não faz qualquer sentido sequer pensar em conter o crescimento da economia de um país com enormes déficits sociais, a questão é saber quais serão as fontes alternativas de energia. Carvão e gás são poluidores, embora a tecnologia possa reduzir os danos. E são recursos finitos. A energia eólica é promissora, mas é difícil imaginar todo um parque industrial na dependência da relativa incerteza dos ventos.

A energia nuclear surge, então, como uma alternativa a não ser descartada. É preciso, de fato, entender o que houve no Japão (há confiáveis relatos de graves erros técnicos cometidos pelos japoneses). Mas não existe outra fonte energética tão promissora quanto a nuclear. Até do ponto de vista ambiental.

Irracionalidade, opinião de Ricardo Baitelo, doutor em planejamento energético e trabalha na campanha de clima e energia do Greenpeace, e de Sérgio Leitão, diretor da organização

A iniciativa do governo de adiar a construção de quatro reatores para depois de 2021, considerando a abundante oferta de energia eólica e hidrelétrica do País, abre espaço para o Brasil abandonar a opção nuclear. E deixa o Rio de Janeiro, o estado que mais depende desse tipo de energia, livre para exigir de Brasília fontes renováveis para movimentar a sua economia.

A geração nuclear contribui com 23% da energia consumida pelo estado. Este índice pode virar zero. A capacidade de geração energética de painéis espalhados por 5% da capital, por exemplo, supriria 100% da demanda fluminense. No Brasil como um todo, essa situação se repete: energia nuclear supre menos do que 2% de nossas necessidades, a um preço extorsivo se comparado às outras fontes de geração.

O próprio Ministério de Minas e Energia, em suas estimativas sobre o potencial de geração eólica do País, aponta para a insensatez de qualquer investimento em nuclear. Sozinhos, os ventos seriam capazes de produzir 143 gigawatts, dez vezes mais do que gera a usina hidrelétrica de Itaipu - a maior do Brasil.

O País estará entre os dez maiores produtores mundiais de energia eólica em 2013, e o custo de geração praticado no Brasil é o mais econômico do mundo. Anualmente, são contratados cerca de 2 mil MW, mais do que a capacidade instalada de Angra 1 e 2. Com tantos motivos para o governo investir em fontes renováveis de energia, insistir na construção de Angra 3 é igualmente um erro.

Angra 3 é um poço de problemas e indefinições. A segurança é preocupante. O projeto prevê uma parede para encapsular seu reator medindo apenas 60 centímetros. A da usina alemã que lhe serviu de modelo tem o dobro da espessura. Quanto à população no entorno, continua sem uma rota alternativa de fuga no caso de acidentes.

A readequação do projeto a novas medidas de segurança pós-Fukushima acrescentaria R$ 300 milhões ao valor total da obra, estimado em mais de R$ 10 bilhões. Por conta dessas e outras brechas no projeto de Angra 3, a Alemanha anunciou que não pretende liberar a Garantia Hermes, fiança que garantiria o financiamento de US$ 1,3 bilhão de bancos franceses para a construção da usina.

Enquanto o governo tenta descobrir como fechar a conta de Angra 3, o potencial energético da cana-de-açúcar, de 14 mil megawatts, está abandonado nos canaviais. E o governo força a construção de Angra 3, com tecnologia importada de países que hoje a desprezam.

A Alemanha decidiu desligar todos os seus reatores até 2022. Na França, o novo governo pretende reduzir a participação nuclear em sua matriz energética até 2025. Depois de Fukushima, o Japão reavaliou seus planos de expansão nuclear, desligou seus 54 reatores e estuda maneiras de manter esse status, com novos hábitos de consumo e uma matriz elétrica diversificada.

Fukushima trouxe duas lições para o Brasil. O país adiou o investimento em novas usinas nucleares e o ministro Edison Lobão parou de dizer que tinha planos de ver 50 mamutes radioativos construídos até 2050. É um alívio, mas pequeno. É em nossa capacidade de geração a partir de fontes renováveis que está o nosso futuro.

Ciência é novo tema de concurso do Festival do Minuto



JC e-mail 4501, de 21 de Maio de 2012


As inscrições vão até o dia 27 de outubro.


Ciência. É só pensar no termo que já vem à cabeça um laboratório, um rato para experiências e um cientista maluco de avental branco? Pois ciência é muito mais do que essa visão estereotipada, já que nos deparamos com ela nas mínimas coisas do dia a dia - da lâmpada elétrica ao telefone celular, do banho quente aos tratamentos de saúde, da conservação ambiental ao uso da internet. Por isso, o termo pode trazer inúmeras ideias para criar belos vídeos de um minuto. É no que aposta o novo concurso do Festival do Minuto.

Mas, afinal, o que é ciência? Mesmo que sua definição seja bastante abrangente, podemos dizer que ciência é o resultado do esforço humano para aumentar o que se sabe sobre determinado assunto com base em um método científico, ou seja, na observação, no questionamento e no raciocínio lógico. É desse conhecimento que resultam boa parte das descobertas e das invenções. Em resumo, ciência também é resultado da nossa criatividade.

Por isso, para participar do festival, nada melhor do que deixar a imaginação fluir sobre qualquer ciência, seja ela exata, humana ou sobre a vida. Ciência da computação, engenharia, física, matemática, química, zootecnia, botânica, biologia, antropologia... E, como sempre, valem vídeos de 60 segundos em qualquer formato: filmes de animação, vídeos feitos com câmeras digitais, celular, ipad etc. O que vale, mais uma vez, é a criatividade. O concurso segue aberto a pessoas de todas as idades, com inscrições até o dia 27 de outubro.

Festival - O Festival do Minuto foi criado no Brasil, em 1991, e propõe a produção de vídeos com até um minuto de duração. É, hoje, o maior festival de vídeos da América Latina e também o mais democrático, já que aceita contribuições de amadores e profissionais, indistintamente. A partir do evento brasileiro, o Festival do Minuto se espalhou para mais de 50 países, cada um com dinâmica e formato próprios. O acervo do Minuto inclui vídeos de inúmeros realizadores que hoje são conhecidos pela produção de longas-metragens, como os diretores Fernando Meirelles (Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel), Beto Brant (O Invasor, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios) e Tata Amaral (Um Céu de Estrelas, Antônia).

Para saber mais, acesse www.festivaldominuto.com.br.
(Assessoria de Imprensa Festival do Minuto)

Cotas raciais - quem ganha, quem perde? Artigo de José Goldemberg


7. Cotas raciais - quem ganha, quem perde? Artigo de José Goldemberg
JC e-mail 4501, de 21 de Maio de 2012.
José Goldemberg é professor emérito da Universidade de São Paulo. Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo de hoje (21).

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu recentemente, por unanimidade, que a introdução de cotas raciais no acesso às universidades públicas federais não viola a Constituição da República, seguindo a linha adotada nos Estados Unidos há algumas décadas de introduzir "ações afirmativas" para corrigir injustiças feitas no passado. A decisão flexibiliza a ideia básica de que todos são iguais perante a lei, um dos grandes objetivos da Revolução Francesa.

Ela se origina na visão de que é preciso aceitar a "responsabilidade histórica" dos malefícios causados pela escravidão e compensar, em parte, as vítimas e seus descendentes. A mesma ideia permeia negociações entre países, entre ex-colônias e as nações industrializadas, na área comercial e até nas negociações sobre o clima.

Sucede que, de modo geral, "compensar" povos ou grupos sociais por violências, discriminações e até crimes cometidos no passado raramente ocorreu ao longo da História. Um bom exemplo é o verdadeiro "holocausto" resultante da destruição dos Impérios Inca e Asteca, na América Latina, ou até da destruição de Cartago pelos romanos, que nunca foram objeto de compensações. Se o fossem, a Espanha deveria estar compensando até hoje o que Hernán Cortez fez ao conquistar o México e destruir o Império Asteca.

É perfeitamente aceitável e desejável que grupos discriminados, excluídos ou perseguidos devam ser objeto de tratamento especial pelos setores mais privilegiados da sociedade e do próprio Estado, por meio de assistência social, educação, saúde e criação de oportunidades. Contudo, simplificar a gravidade dos problemas econômicos e sociais que afligem parte da população brasileira, sobretudo os descendentes de escravos, estabelecendo cotas raciais para acesso às universidades públicas do País, parece-nos injustificado e contraprodutivo, porque revela uma falta de compreensão completa do papel que essas instituições de ensino representam.

Universidades públicas e gratuitas atendem apenas a um terço dos estudantes que fazem curso superior no Brasil, que é uma rota importantíssima para a progressão social e o sucesso profissional. As demais universidades são pagas, o que prejudica a parte mais pobre da população estudantil. Essa é uma distorção evidente do sistema universitário do País. Mas o custo do ensino superior é tão elevado que apenas países ricos como a França, a Suécia ou a Alemanha podem oferecer ensino superior gratuito para todos. Não é o nosso caso. Essa é a razão por que existem vestibulares nas universidades públicas, onde a seleção era feita exclusivamente pelo mérito até recentemente.

A decisão recente do Supremo Tribunal Federal deixa de reconhecer o mérito como único critério para admissão em universidades públicas. E abre caminho para a adoção de outras cotas, além das raciais, talvez, no futuro.

Acontece que o sistema universitário tem sérios problemas de qualidade e desempenho, como bem o demonstra o resultado dos exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - garantia da qualidade dos profissionais dessa área -, que reprova sistematicamente a maioria dos que se submetem a ele, o mesmo ocorrendo com os exames na área médica.

Órgãos do governo como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, ou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, têm feito esforços para melhorar o desempenho das universidades brasileiras por meio de complexos processos de avaliação, que têm ajudado, mas não se mostraram suficientes.

Esses são mecanismos externos às universidades. Na grande maioria delas, os esforços internos são precários em razão da falta de critérios e de empenho do Ministério da Educação, que escolhe os reitores, alguns dos quais, como os da Universidade de Brasília, iniciaram o processo de criação de cotas raciais como se esse fosse o principal problema das universidades e do ensino superior no Brasil.

O populismo que domina muitas dessas universidades, há décadas, é a principal razão do baixo desempenho das universidades brasileiras na classificação mundial. Somente a Universidade de São Paulo (USP) conseguiu colocar-se entre as melhores 50 nesse ranking.

O problema urgente das universidades brasileiras é, portanto, melhorar de nível, e não resolver problemas de discriminação racial ou corrigir "responsabilidades históricas", que só poderão ser solucionadas por meio do progresso econômico e educacional básico.

O governo federal parece ter tomado consciência desse problema ao lançar o programa Ciência sem Fronteiras, que se propõe a enviar ao exterior, anualmente, milhares de estudantes universitários, imitando o que o Japão fez no século 19 ou a China no século 20 e foi a base da modernização e do rápido progresso desses países.

Daí o desapontamento com a decisão da Suprema Corte não só por ter sido unânime, mas também por não ter sido objeto de uma tomada de posição de muitos intelectuais formadores de opinião, exceto notáveis exceções, como Eunice R. Durham, Simon Schwartzman, Demétrio Magnoli e poucos outros que se manifestaram sobre a inconveniência da decisão.

O único aspecto positivo na decisão do Supremo Tribunal Federal foi o de que simplesmente aceitou a constitucionalidade das cotas raciais, cabendo aos reitores, em cada universidade, adotá-las e implementá-las.

Há aqui uma oportunidade para que os professores mais esclarecidos assumam a liderança e se esforcem para manter elevado o nível de suas universidades sem descuidar de tornar o acesso pelo mérito mais democrático, e sem a adoção de cotas raciais, como algumas universidades estaduais de São Paulo estão fazendo.

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

FOTOS DO HUBBLE TELESCÓPIO




http://www.space.com/10689-hubble-space-telescope-photos.html

Vídeos produzidos por alunos do MIT ensinam conceitos básicos de ciência




http://blogs.estadao.com.br/ciencia-diaria/videos-produzidos-por-alunos-do-mit-ensinam-conceitos-basicos-sobre-ciencia/

Brasil não deve ter nova usina nuclear até 2021

JC e-mail 4493, de 09 de Maio de 2012. 


Estudo revela que energia solar já é viável no País.


O Brasil não prevê novas usinas nucleares até 2021, anunciou ontem (8) o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Segundo ele, no plano decenal que compreenderá o período encerrado naquele ano não está prevista nenhuma outra central além de Angra 3, em fase de construção em Angra dos Reis, município no litoral sul do estado do Rio.

"As informações que tenho tido é que o plano de 2021 não vai considerar [novos projetos nucleares]. Vamos esperar para ver os outros [planos]", declarou Zimmermann após participar do 9.º Encontro Nacional do Setor Elétrico (Enase).

Já no plano que considera o horizonte até 2030, o governo prevê espaço para a construção de quatro a oito centrais nucleares. Para sair do papel, uma usina leva, em média, seis anos a partir do início da construção. Mas, segundo Zimmermann, antes de o governo tomar a decisão de construí-la, é necessário mais tempo para a discussão do projeto. "O novo programa nuclear implica em outra discussão, como o tipo de central que vamos usar, qual será a tecnologia", afirmou.

Ele comentou que, depois do acidente ocorrido na usina japonesa de Fukushima, no ano passado, aumentou a preocupação do setor com a questão da segurança, o que tornou mais complexo o processo de implantação de novas plantas nucleares.

Atraso - Os reflexos do desastre ocorrido no Japão foram sentidos no programa nuclear brasileiro. No começo do ano, o assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam Guimarães, admitiu que o plano do governo para a construção de novas usinas atrasará em até 18 meses por causa do acidente de Fukushima.

Na ocasião, Guimarães lembrou que a tragédia, decorrente de terremoto e maremoto que devastaram a região da usina nuclear, ocorreu no momento em que o Brasil se preparava para levar adiante seu projeto nuclear. A coincidência criou um ambiente desfavorável perante a opinião pública.

Sobre as concessões de usinas hidrelétricas que vencerão a partir de 2015, Zimmermann afirmou que o governo ainda não decidiu se as colocará novamente em leilão ou se optará pela renovação dos contratos. "Desde 2008, estamos estudando [a solução a ser adotada]. Estamos dentro do prazo", disse o secretário executivo, sem revelar quando a decisão a respeito do assunto será tomada.

De acordo com Zimmermann, entre 2015 e 2017 expirarão as concessões de hidrelétricas responsáveis pela geração de 20 mil MW. Ele defendeu como prioritária a participação das hidrelétricas na matriz energética brasileira e como fator de desenvolvimento, apesar das críticas de alguns países. "Não imagine que você vá desenvolver a África instalando placas solares. Em países com nível mais baixo de desenvolvimento é preciso projetos estruturantes."

Energia solar - A geração e o uso residencial da energia solar já são economicamente viáveis em algumas áreas do País, aponta estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que será entregue ao Ministério de Minas e Energia na semana que vem.

Segundo o presidente do EPE, Mauricio Tolmasquim, o documento indica possíveis medidas de incentivo ao setor, entre as quais isenção de impostos e instrumentos de financiamento. "Mostramos áreas que são e não são competitivas [para energia solar]", disse o executivo depois de participar do 9.º Encontro Nacional do Setor Elétrico (Enase).

Sem revelar quais são as regiões, Tolmasquim explicou que, uma vez que nelas o custo da energia em geral é mais elevado, a geração solar descentralizada (obtida por painéis fotovoltaicos instalados nas residências) acaba compensando.

Sobre a geração centralizada, em parque de energia solar, Tolmasquim disse que projetos desse tipo precisariam de leilão específico. Segundo o executivo, uma disputa pela energia solar poderia dar "massa crítica" ao setor, o que impulsionaria seu desenvolvimento. Nesse caso, apenas uma quantidade pequena desse tipo de energia deveria ser contratada, para evitar que os preços ainda elevados tenham impacto sobre as tarifas.

O presidente da EPE também disse acreditar que a permissão de um leilão específico para energia solar "abriria a porteira" para que representantes de outras fontes também requisitem disputas específicas, o que o governo pretende evitar.

O crescimento do número de projetos de energia alternativa deve fazer com que a participação da energia hidrelétrica na matriz energética brasileira caia, nos próximos dez anos, de 75% para 67%, de acordo com as previsões do presidente da EPE.
(O Estado de São Paulo)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Museu de Ciências da Terra participa da 10ª Semana Nacional de Museus

JC e-mail 4492, de 08 de Maio de 2012.

Como parte do evento anual proposto pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), cujo tema deste ano é "Museus em um Mundo em Transformação", o Museu de Ciências da Terra preparou-se especialmente para o evento, com atividades que ligam sua abordagem científica ao tema sugerido pelo Ibram, e desenvolveu o assunto "Terra em Transformação". A 10ª Semana Nacional de Museus será realizada entre 14 e 20 de maio.

Durante a semana, o museu realiza a exposição "Conhecer o Passado, para Entender o Presente e Construir o Futuro". A mostra trará instalações com painéis e fósseis mostram a transformação da Terra ao longo do tempo geológico. A exposição ficará aberta das 10h às 16h e a entrada é gratuita.

No dia 14 de maio, o museu promove a palestra "Bacia do Araripe - exemplo de um mundo em transformação", que será ministrada por Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ. Ele apresentará, por meio do estudo dos fósseis, as modificações dos ecossistemas atuais e do passado. A palestra acontece às 16h e a entrada é gratuita.

O museu ainda realiza visitas guiadas por seu acervo de minerais, rochas e fósseis, que registram as transformações da Terra, incluindo acervo bibliográfico, com obras que embasam as pesquisas e o conhecimento científico. Mais informações e agendamento de grupo podem ser feitos pelo telefone (21) 2295-7596. O Museu de Ciências da Terra fica localizado na avenida Pasteur 404, Urca, Rio de Janeiro.
(Informações do Museu de Ciências da Terra)

Rio+20 e o Código Florestal, artigo de Antonio Delfim Netto

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Artigo publicado no Valor Econômico de hoje (8).


Aparentemente, o primeiro a sugerir que o aumento da concentração de dióxido de carbono (o famoso CO2) poderia ser responsável pelo aumento da temperatura terrestre, foi o químico sueco Svante Arrthenius num artigo publicado em 1896. Nos últimos 116 anos sua hipótese tem sido discutida e escrutinizada de todas as formas, sem que se tenha chegado a uma conclusão definitiva. Há, também, sérias dúvidas sobre a origem do aquecimento: se produto da evolução natural do sistema físico cíclico que controla a Terra ou se produto da atividade humana (efeito antropogênico).

A discussão escapou da área "científica", onde tudo se resolve pela procura de "evidências controladas que podem ser repetidas", para o campo da "ideologia", estimulada por suas consequências sobre a atividade privada que procura a "maximização do lucro". Da mesma forma que a indústria de cigarros induz a construção de evidências "científicas" que seu produto não é um fator estimulador do câncer no pulmão, ou pelo menos, que "há dúvida razoável" sobre essa causalidade, setores altamente geradores de CO2 (energia a carvão ou petróleo), que produzem externalidade negativa cuja correção exige uma intervenção da sociedade através de um estado regulador forte, tentam criar, pelo menos, controvérsias.

No nível das conversas diplomáticas, a ONU estimulou a conferência sobre o clima em Estocolmo em 1972, que tem sido regularmente repetida em cada década 1982 (Nairóbi); 1992 (Rio); 2002 (Joanesburgo, Rio+10) e 2012 (Rio+20). Em 1997 nada menos do que 160 nações aderiram ao Protocolo de Kyoto, rapidamente desmoralizado por críticas de toda natureza.

Os resultados práticos de tais reuniões têm sido pífios. Entre 1880 e 2010 a temperatura média da Terra revelou grande variação, mas a sua tendência tem sido a de crescimento. Aumentou em torno de 0,0042 grau centígrado ao ano entre 1880 e 1980 e acelerou-se para nada menos do que 0,0135 entre 1980 e 2010. Nos últimos 130 anos o aquecimento da Terra foi de quase 1%, mas é difícil discernir se devido aos movimentos "naturais" ou do efeito antropogênico. Se considerarmos o pequeno espaço de tempo decorrido, é muito provável que o grosso do efeito seja mesmo derivado do aumento da atividade industrial do homem.

Isso impõe uma grande responsabilidade à Rio+20, da qual se deve esperar compromissos firmes para a mudança "verde" na produção de combustíveis e no esforço recobrado em tecnologias que reduzem a quantidade de energia por unidade de PIB. Apenas para dar um exemplo, a China, que desde 2006 é a maior poluidora internacional (é muito rica em carvão), consome 2,5 vezes a energia por unidade de PIB com relação à média mundial e 4,5 vezes a consumida pelos países da OCDE. Apesar de todo seu esforço antipoluidor, sendo a maior consumidora de energia por unidade do PIB, sendo o aumento de sua energia produzida pelo carvão e tendo a maior taxa de crescimento do PIB, é pouco provável que mesmo com um esforço gigantesco ela venha a contribuir significativamente para o objetivo de 2050. O mesmo acontece com os EUA.

A situação é ainda mais complicada quando consideramos que 16 cientistas publicaram no início deste ano um manifesto sob o título "Não há necessidade de pânico sobre o aquecimento global" ("The Wall Street Journal", 26/1/2012) afirmando que não há "evidência incontroversa que esteja havendo um aquecimento global" e que "não há prova que o CO2 seja um poluente". Sugerem que podemos esperar mais 50 anos para ver como as coisas ficam! E como se faltasse "ruído", o ganhador do prêmio Nobel de Física, professor Ivar Giarver, democrata, apoiador de Obama, pediu desligamento, em setembro de 2011, da prestigiosa American Physical Society (APS), por não concordar com uma resolução onde ela afirmou o contrário do que está dito acima. Isso mostra o nível de paixão despertado por uma questão que deveria ser resolvida com fria objetividade apelando, pelo menos, para o princípio da precaução, diante das terríveis consequências do aumento do aquecimento terrestre se ele vier acontecer. Mais dramático, ainda, foi o recente reconhecimento do célebre catastrofista James Lovelock (o criador da hipótese Gaia: a Terra é um organismo vivo) que o clima contrariou, desde 2000, todas as suas previsões e que "é necessário mais estudos para entender o futuro do planeta".

O mesmo fenômeno, num nível diferente, explica a enorme disputa que cercou o Código Florestal aprovado no Congresso. Um discurso de surdos. O lado mais vocal defendeu interesses difusos e nem sempre honestos como os patrocinados por algumas ONGs. O outro, com mais poder político no Congresso defendeu, sem sutilezas, seus interesses econômicos concretos. O Código tem pouco a ver com o aquecimento global e a tentativa de misturá-lo com a Rio+20 não ajudará em nada. Ele tem tudo a ver com o uso inteligente de nossos recursos naturais para continuarmos a construir uma economia sustentável e economicamente eficiente, mas não tem nada a ver com a anistia sugerida a quem, deliberada e maliciosamente, infringiu a lei vigente.

O Brasil não fará má figura na Rio+20 devido aos seus esforços. Nela estará representado pela competente e pragmática ministra Izabella Teixeira, mas há sérias dúvidas sobre seus resultados.

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem a opinião do jornal.

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JC e-mail 4492, de 08 de Maio de 2012.