sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Imagens do Hubble permitem prever 10 mil anos de movimento de estrelas

 
Cientistas criaram simulação de aglomerado de estrelas a partir de material captado por supertelescópio

Astrônomos americanos usaram imagens feitas pelo telescópio espacial Hubble, da agência norte-americana Nasa, para prever os movimentos de um grupo de estrelas nos próximos dez mil anos.

O telescópio fez imagens do aglomerado globular Omega Centauri, um grupo de estrelas que chama a atenção de observadores desde que foi catalogado há 2 mil anos por Ptolomeu, entre 2002 e 2006.

Ao analisar as imagens deste período de quatro anos, os cientistas conseguiram registrar as medidas mais precisas já tomadas dos movimentos das mais de 100 mil estrelas do aglomerado, a maior pesquisa já feita para estudar o movimento dos astros em qualquer desses conjuntos.



Os astrônomos usaram as imagens em sequência para criar um filme mostrando os movimentos acelerados das estrelas do aglomerado. A simulação mostra o movimento projetado das estrelas nos próximos 10 mil anos.

"São necessários programas de computador de alta velocidade, sofisticados, para medir as mudanças minúsculas nas posições das estrelas, que ocorrem apenas em um período de quatro anos", afirmou o astrônomo Jay Anderson, do Instituto de Ciência Espacial Telescópica de Baltimore, nos Estados Unidos, um dos responsáveis pela pesquisa.

Anderson, afirmou que a "visão muito precisa do Hubble foi a chave para nossa habilidade de medir movimentos estelares neste aglomerado".

"Com o Hubble você pode esperar três ou quatro anos e detectar os movimentos das estrelas de forma mais acurada do que se você estivesse esperado 50 anos (usando um) telescópio na Terra", afirmou o astrônomo Roeland van der Marel, que também participou da pesquisa.

Identificado como um aglomerado globular de estrelas em 1867, Omega Centauri é um dos cerca de 150 aglomerados deste tipo na Via Láctea.

O grande grupo de estrelas é o maior e mais brilhante aglomerado da galáxia. Ele é localizado na constelação de Centauro e é um dos poucos que pode ser visto a olho nu no hemisfério sul.

O astrônomo Ptolomeu catalogou Omega Centauri pela primeira vez há 2 mil anos. No entanto, ele pensou que o aglomerado era apenas uma estrela, pois não sabia que era, na verdade, um grupo de cerca de 10 milhões de estrelas orbitando em volta de um centro de gravidade comum.

As estrelas estão tão próximas umas das outras que os astrônomos tiveram que esperar pela criação e lançamento do telescópio Hubble para olhar no centro do grupo e analisar as estrelas individualmente. E a visão precisa do telescópio também permitiu aos cientistas medir o movimento de várias destas estrelas em um período relativamente curto de tempo.
JC e-mail 4126, de 28 de Outubro de 2010.

(BBC)

Projeto pode recriar kit "Os Cientistas"

Sucesso nos anos 1970, estojos ensinavam alunos a refazer experimentos-chave da história da ciência em casa
Um grupo de acadêmicos brasileiros articula o lançamento de kits para estimular o interesse de jovens pela pesquisa e elevar o patamar do aprendizado de ciências no ensino médio do país.

A ideia é fazer com que cada estudante que adquira o produto -que seria vendido em bancas de jornal por R$ 15 ou R$ 20- reproduza experimentos cruciais da história da ciência sem sair de casa.

A coleção, que já tem nome, "Aventuras na Ciência", e protótipo do primeiro kit, inspira-se em "Os Cientistas", fascículos lançados pela extinta Funbec (Fundação Brasileira para o Ensino da Ciência) em parceria com a Editora Abril. Como haverão de recordar os leitores com mais de 40 anos, os kits fizeram sucesso nos anos 1970.

Eram estojos de isopor que vinham com o material necessário para as experiências, baseadas em descoberta clássica de um cientista. Um folheto orientava o estudante na montagem e explicava o que deveria ser medido. Também constavam a biografia do cientista e a história da descoberta.

Como todas as boas ideias, essa também tem problemas. O mais grave deles é que ainda não possui viabilidade financeira. Para consegui-la, os acadêmicos esperam o apoio do BNDES.

O protótipo já foi enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os pesquisadores aguardam agora que o presidente os receba em audiência, da qual também participariam os ministros da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e da Educação, Fernando Haddad.


"O Brasil está avaliado entre os piores países do mundo em ensino de ciências no nível médio. O projeto dos kits permitirá, em curto prazo, promover um salto de qualidade", diz o físico Herch Moysés Nussenzveig, um dos autores da ideia.

"Queremos que a garotada se divirta e apaixone com o que está fazendo, o que não costuma acontecer nas salas de aula", acrescenta.

Além de Nussenzveig, professor da UFRJ, fazem parte do grupo Isaías Raw, do Instituto Butantan, idealizador de "Os Cientistas" original, a educadora Myriam Krasilchik, as biólogas Mayana Zatz e Eliana Dessen, o físico Vanderlei Bagnato, a astrônoma Beatriz Barbuy, o químico Henrique Toma e o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz.


Pelo plano dos pesquisadores, seria necessário um investimento inicial de R$ 10 milhões do BNDES, para erguer a fábrica que prepararia os kits. Outra forma de incentivo almejada pelo grupo é que o MEC compre parte dos estojos para distribuí-los em escolas públicas. Isso permitiria reduções no preço.

"O projeto poderá chegar a pelo menos 1 milhão de crianças. Lula deu um grande estímulo às Olimpíadas de Matemática quando soube que envolveriam milhões de alunos. No caso dos kits, o alcance e as repercussões para o país seriam ainda maiores", diz Nussenzveig.

(Hélio Schwartsman)



(Folha de SP, 13/10)

É hora de priorizar a escola pública, artigo de Rubens Naves e Carolina Gazoni

É hora de priorizar a escola pública, artigo de Rubens Naves e Carolina Gazoni


"Clamamos desde já àquele que assumir a Presidência: diga claramente à sociedade que o verdadeiro palácio republicano é a escola pública"

Rubens Naves é advogado e ex-presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente; Carolina Gazoni é advogada. Os dois são autores do livro "Direito ao Futuro - Desafios para a Efetivação dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes", recém-lançado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Artigo publicado na "Folha de SP":

Ao assumir a Presidência, em 2003, Lula jogou o cacife político que obtivera nas urnas na promessa de zerar a fome no país.

Eticamente inquestionável, a meta prioritária de prover sustento nutricional mínimo a todos os brasileiros foi, segundo percepção dominante no Brasil e no exterior, satisfatoriamente alcançada e, junto com uma substancial redução da pobreza, constitui, provavelmente, a maior realização de seus dois mandatos.

Avanços fundamentais na história brasileira, a promoção dos mais pobres e a consolidação de uma efetiva trajetória de distribuição de renda, entretanto, não garantem a conquista de patamares mais elevados de civilização.

Enquanto os alunos das escolas públicas -que compõem mais de 85% dos estudantes da educação básica- continuarem à míngua em termos de qualidade de ensino, o Brasil seguirá ao sabor dos ventos e humores globais, incapaz de implementar um projeto autônomo e vigoroso de desenvolvimento.

O próximo presidente da República terá a oportunidade de liderar o país rumo à definitiva superação do subdesenvolvimento. Mas, para isso, precisará assumir plenamente a responsabilidade de elevar a educação básica brasileira a níveis de qualidade compatíveis com um projeto digno de nação.

Tarefa que provavelmente exigirá alguns sacrifícios orçamentários em relação a outras metas legítimas de governo, mas que demandará, sobretudo, determinação, coragem e competência.

Determinação para recusar objetivos políticos mais fáceis e de efeito eleitoral mais rápido. Coragem para enfrentar resistências corporativas dos que não querem ser cobrados pelos resultados de seus alunos e interesses privados dos que lucram acolhendo refugiados da escola pública em instituições particulares medíocres.

Competência para implantar as bases de um sistema educacional capaz de arregimentar universitários talentosos para a carreira docente, atrair pela qualidade e gratuidade os filhos da classe média e promover ascensão social em uma escala inédita.

Uma escola pública com essas qualidades -como existe em vários países- vale mais que qualquer tesouro mineral ou agrícola. E, por gerar uma sociedade mais esclarecida, é a melhor garantia de que as riquezas e potenciais do país serão bem explorados, com sustentabilidade e sabedoria.

Graças a uma iniciativa da Fundação Abrinq, tanto Dilma Rousseff quanto José Serra assinaram um compromisso público garantindo a continuidade do Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescente, lançado em 2003, que prevê a priorização de políticas e ações para a efetivação dos direitos dos brasileiros mais jovens e inclui metas educacionais.

Diante do compromisso dos candidatos e das oportunidades históricas que hoje se abrem ao país, clamamos desde já àquele que, no dia 1º de janeiro de 2011, subir a rampa do Planalto: diga claramente à nação que o verdadeiro palácio republicano, do qual a sociedade precisa tomar posse para gestar a grande e bela democracia brasileira do século 21, chama-se escola pública.

Ao proclamar e cumprir essa prioridade, aquele que assumir a Presidência vai se mostrar à altura da liderança que lhe terá sido outorgada por dezenas de milhões de votos. Creiam: a maioria dos brasileiros compreenderá a importância da missão e atenderá ao seu chamado.



(Folha de SP, 12/10)